Todo aquele que começa a seguir a Cristo pode estar certo de que muitos
fogem, seguindo caminhos que surgem diante dele. Ser-lhe-ão dadas numerosas oportunidades
para retroceder. Outras vozes o chamarão, oferecendo-se para cortar polegadas
da cruz.. Doze legiões de anjos estão prontas para tirá-lo da senda da renúncia
de si próprio e do sacrifício.
William Mac Donald[1]
nos dá uma notável ilustração disto no relato dos três candidatos a discípulo
que permitiram que outras vozes tivessem precedência à voz de Cristo fazendo
referência a Lucas 9.57-62: “Três homens, cujos nomes não são mencionados,
estiveram face a face com Jesus Cristo. Sentiram-se movidos por uma compulsão
interna a segui-LO. Mas permitiram que alguma coisa mais interferisse entre as
suas almas e a completa dedicação.
1º O Senhor Precipitado[2].
Tem-se dado ao primeiro o nome de sr. Precipitado. Entusiasticamente
apresentou-se como voluntário para seguir o Senhor por toda parte:
“Seguir-te-ei para onde quer que vá”. Nenhum preço seria demasiado alto.
Nenhuma cruz seria demasiado pesada. Nenhum caminho seria demasiado áspero.
A princípio a resposta do Salvador não parece ter ligação com o espontâneo
oferecimento do sr. Precipitado. Disse Jesus: “As raposas têm o seus
covis e as aves dos céus, ninhos; mas o filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça”. Na verdade, a resposta do Senhor foi muito apropriada. É
como se dissesse: “Alegas que estás disposto a seguir-me por toda a parte, mas
estás disposto a fazer isto sem as comodidades materiais da vida? As raposas
têm mais comodidades deste mundo do que eu. As aves têm ninhos que podem dizer
que lhes pertencem. Mas eu sou um Peregrino sem lar no mundo que as minhas mãos
fizeram. Estás pronto a sacrificar a segurança de um lar e seguir-me? Estás
pronto a renunciar às legítimas comodidades da vida a fim de servir-me
devotadamente?”
Ao que parece, o homem não estava disposto a isso, porque não ouvimos falar
mais deles nas Sagradas Escrituras. O seu amor pelas conveniências terrenas foi
maior que a sua dedicação a Cristo!
2º O Senhor Moroso. Ao segundo se tem dado o nome de Senhor Moroso. Não
foi voluntário como o primeiro; em vez disso, o Senhor o chamou para que fosse
um seguidor. Sua resposta não foi uma recusa completa. Não é que estivesse
inteiramente desinteressado no Senhor. Mas havia algo que ele queria fazer
primeiro. Este foi o grande pecado. Colocou as reivindicações dele acima das de
Cristo. Note-se a sua resposta: “Permite-me ir primeiro sepultar meu pai”.
Ora, é perfeitamente legítimo que um filho mostre respeito natural a seus pais.
E se um pai morre, por certo está dentro dos limites da fé que o filho lhe dê
um sepultamento decente.
Mas as legítimas cortesias da vida tornam-se positivamente pecaminosas quando
tomam prioridade sobre os interesses do Senhor Jesus. A verdadeira ambição da
vida “deste homem é exposta no seu pedido nu e cru: “Senhor, permita-me...
primeiro...”. As outras palavras que disse eram simples camuflagem
para ocultar o seu subjacente desejo de colocar o seu “eu” em primeiro lugar.
Transparece que ele não percebeu que pedir permissão ao Senhor e colocar-se em
primeiro lugar era um absurdo moral e uma impossibilidade moral. Roga-se a
permissão a Cristo, reconhecendo-o como Senhor, então Cristo é que tem de vir
em primeiro lugar. Se o pronome pessoal “eu” – ou seu equivalente – ocupa o
trono, Cristo não está mais na direção.
O Sr. Moroso tinha um trabalho para fazer, e deixa que esse trabalho ficasse
com o primeiro lugar. Portanto, foi pertinente que Jesus lhe dissesse: “Deixa
aos mortos sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai, e prega o reino de
Deus”. Podemos parafrasear as Suas palavras como segue: ”Há certas coisas que
os espiritualmente mortos podem fazer tanto como os crentes. Mas há outras na
vida que somente o crente pode fazer. Vê que não passes a vida fazendo o que um
inconverso poderia fazer igualmente bem. Deixa que os mortos espiritualmente
enterrem os fisicamente mortos. Quanto a ti, porém, age como indispensável.
Deixa que o impulso dominante da tua vida seja o de promover o progresso da
minha causa na Terra”.
Parece que o preço era alto demais para o sr. Moroso pagar. Saiu do palco do
tempo para entrar num anônimo silêncio. Se o primeiro ilustra as
comodidades materiais como um obstáculo ao discipulado, o segundo pode falar de
um serviço ou ocupação tomando precedência sobre a principal razão da
existência de um cristão. Não é que haja algo errado num emprego secular; a
vontade de Deus é que o Homem trabalhe para prover às suas necessidades e às de
sua família. Mas a vida do verdadeiro discípulo exige que o reino de Deus e a
sua justiça sejam procurados primeiro; que o crente não passe a vida fazendo o
que o não regenerado pode fazer tão bem, se não melhor; e que a função de um
trabalho seja simplesmente prover às necessidades comuns, enquanto que a
principal vocação do cristão é pregar o reino de Deus.
3º O Senhor Tranquilo. Costuma-se chamar o sr. Tranquilo ao
terceiro homem. É parecido com mo primeiro em que também se apresentou
voluntariamente no uso que fez das palavras contraditórias: “... Senhor
deixa-me primeiro....”. Disse ele: “Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me
primeiro despedir-me dos de casa”.
Uma vez mais temos de admitir que, tomada de si mesma, não havia nada de errado
com essa solicitação. Não é contrário à lei de Deus mostrar interesse amoroso
pelos nossos parentes ou observar as regras da etiqueta ao deixá-los. Qual foi,
pois, o ponto em que este homem falou no teste? Este, permitiu que os ternos
laços naturais usurpassem o lugar de Cristo.
Assim foi que, com penetrante compreensão, o Senhor Jesus disse: “Ninguém que,
tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus”. Em
outras palavras: Os meus discípulos não são feitos de substância tão
egocêntrica e maleável como a que exibes. Quero como discípulos aqueles que
estejam dispostos a renunciar aos laços familiares, que não se deixem levar por
parentes sentimentais, que me ponham acima de todos os demais em suas vidas.
Somos forçados a concluir que o sr. Tranquilo deixou Jesus e se foi tristemente
estrada fora. Suas mais que confiantes aspirações ao discipulado romperam-se
nas rochas dos laços da afinidade familial. Talvez fosse uma chorosa mãe a
solução: “Você partirá o coração de sua mãe se me deixar para ir par o campo
missionário”. Não sabemos. Tudo que sabemos que a Bíblia generosamente
evita dar o nome deste fraco indivíduo que, voltando atrás, perdeu a maior
oportunidade da sua vida, e ganhou o epitáfio: “Inapto para o reino de Deus”.
Sumário: São estas, pois as três formas primárias de extravio do
verdadeiro discipulado, ilustradas pelos três homens que não estiveram
dispostos a percorrer todo o caminho com o Senhor Jesus Cristo.
O sr. Precipitado demonstrou amor pelas comodidades terrenas.
O sr. Moroso apegou-se a
precedência de um emprego ou de uma ocupação.
O sr.
Tranquilo deu prioridade aos laços familiares.
O Senhor
Jesus ainda chama, como sempre chamou, homens e mulheres para segui-lo heróica
e sacrificialmente. As rotas de fuga ainda se apresentam dizendo com palavras
solícitas: “Poupa-te! Longe de ti tal coisa!”. Poucos se dispõem a responder
positivamente.
Shalom...Pr
Croce.
[1] William MAC
DONALD – O Discipulado Verdadeiro p.16-21 – Mundo Cristão.