Um dos grandes problemas que o homem tem enfrentado é o uso inadequado do falar. A mentira é tão antiga quanto a história da humanidade. O engano tem acompanhado o homem desde que pecou e a murmuração é sua companheira de todas as horas. A fofoca, a maledicência, o falso testemunho aparecem constantes nos relacionamentos humanos, gerando uma comunicação defeituosa. Tiago diz que “... se alguém não tropeça no falar é perfeito varão...” (Tg 3.2). Grande parte dos problemas de nossa comunidade está relacionado de alguma forma, ao uso indisciplinado da língua, portanto, é fundamental que tenhamos uma linguagem sã e irrepreensível, isto é, uma linguagem santa em nosso convívio. Vejamos alguns pecados que podem afetar a nossa linguagem:
1. O Pecado da Murmuração.
Como toda enfermidade provocada por vírus carece de um tratamento sério, assim também é a murmuração. O germe da murmuração é uma maldição dos séculos. Um impedimento para a operação de Deus. Reflete ataques de Satanás ao crente, em diversas áreas. Deus condena de modo incisivo a murmuração: (Lm 3.39; Jo 6.43; I Co 10.10; Pv 2.14).
a) Incredulidade. A perda da fé é o ambiente mais propício para o surgimento do pecado da murmuração. A incredulidade é uma perversa provisão de Satanás para que as pessoas nunca se sintam aptas a louvar a Deus. Jesus mesmo declarou que a incredulidade foi impedimento a realização de alguns milagres (Mt 13.58; Mt 17.20; Mc 16.14). A incredulidade abre caminho para a murmuração, que nos afasta de Deus. Somos exortados fortemente a abandonarmos a incredulidade (Hb 2.2,3; 4.11).
b) Incapacidade de Recordar. O murmurador sofre de uma amnésia crônica. Ele é incapaz de recordar o quanto já tem alcançado de Deus. Recordar é lembrar primeiramente das exigências do Criador: Lembra-te do teu Criador (Ec 12.1); Lembra-te de Jesus Cristo (II Tm 2.8); Lembrai-vos da mulher de Ló (Lc 17.32); Lembrai-vos das coisas passadas (Is 46.9); Lembrai-vos que éreis gentios (Ef 2.11).
c) Incapacidade de Contemplar os Atos Bondosos de Deus. (Sl 126.3,4). “Grandes coisas fez o Senhor por nós e por isso estamos alegres”. O murmurador, infelizmente vê as coisas que estão se definhando a sua volta, perecendo e apodrecendo e começa a murmurar. Murmura por indelicadeza e falta de senso ético. Assim, ele agride aqueles com os quais convive. Murmura por intolerância ou falta de paciência para aguardar a resposta de Deus a sua orações (Lc 21.19; Sl 40.1; Tg 5.11; Hb 10.36; Tg 1.3).
2. A Influência da Língua.
Conta-se que o Rabino Simeão, filho de Gamaliel disse a seu servo Tobias: “Vai ao mercado e me traga algum bom alimento”. O servo foi e trouxe línguas. Noutra ocasião, disse ao mesmo servo: “Vai ao mercado e me traga algum alimento ruim”. O servo foi e lhe trouxe línguas. Então o mestre lhe perguntou: “Por qual razão, quando te ordenei que me trouxesse bom ou mau alimento, me trouxeste língua?” O servo retrucou: “O homem faz bem ou mal com a sua língua; se fizer o bem, nada há de melhor; se fizer o mal, nada há de pior”. Nossa linguagem deve ter a marca da santificação para o Senhor para que exerçamos a influência de sal da Terra e Lua do Mundo (Mt 5.13-16).
a) Influências da Fala. Segundo a Palavra de Deus, a língua é como o leme de um navio (Tg 3.4), tem poder para governar. É como uma pequena fagulha, tem poder de destruição. (Tg 3.5). É como um membro venenoso, tem poder de contaminação (Tg 3.4). É como um chicote, tem poder de tortura emocional (Jó 5.21). Tem o poder de uma pena de escrever, marca o coração (Sl 45.1; 54.7). É como uma navalha afiada, tem poder para cortar relações. É como uma espada afiada, uma arma de guerra à curta distância (Sl 57,4). É como uma flecha, uma arma de guerra à longa distância (Jr 9.8).
b) Manifestações de uma Língua Enferma. O ser humano peca profundamente quando propositadamente fere a outros, a quem Deus deseja que seja feito o bem. Mas algumas pessoas agem desta maneira porque estão com suas línguas doentes e por isso expressam o que está ocorrendo em suas próprias vidas: Palavras amargas saem de suas bocas (Ef 4.29,30); e o conteúdo de suas falas demonstra o grande mal que está dentro de si. Pessoas assim necessitam urgentemente de uma cura espiritual, pois são aqueles descontentes crônicos, que somente Jesus pode curar.
c) Tipos de Pessoas com a Língua Enferma. Os escarnecedores (Pv 13.1; Jd 17-19) são aqueles que além de individualistas, são também cegos. Os difamadores (Pv 16.28; Sl 101.5; Sl 15.1-3) são aqueles que possuem uma doença crônica aliada à inveja. Os cochichadores (Sl 41.7), o mesmo que murmurador; aquele que gosta de falar coisas más em voz baixa, o mexeriqueiro e bisbilhoteiro. Existe ainda a falsa testemunha, o intrometido (I Pe 4.15), o futriqueiro. Pessoas impertinentes, que gostam de irritar com suas línguas ferinas. Esses, precisam com urgência exercer a santificação de suas línguas.
3. A Tríplice Ilustração do Poder das Palavras.
“A língua combina com a ferocidade do tigre a zombaria do macaco e com a sutileza e o veneno da serpente”. Pode ser entravada e pode ser disciplinada. Pode ser ensinada a fazer coisas boas e úteis, mas nunca pode ser domada; nela nunca se pode confiar. Se não usar de cuidado e vigilância, sua natureza maligna irromperá novamente e os resultados serão calamitosos.
a) A Fonte que Jorra Dois Tipos de Água (Tg 3.11). Não deve haver duplicidade de palavras na vida de um servo de Deus. Cabe aqui fazer uma pergunta: Você controla a sua língua? Dê uma nota de 0 a 10 a si mesmo quanto ao controle da língua e faça uma análise pessoal. Entretanto, a língua do cristão deve fundamentalmente produzir bênção e não maldição. Pode uma mesma fonte produzir dois tipos de águas? Doce e amarga? Cada fonte produz o seu próprio tipo de água. Um é o falar do ímpio e outro é o falar do cristão. Nossas palavras devem ser temperadas com sal (Cl 4.6).
b) A árvore que produz frutos segundo sua espécie. “... Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce...” (Tg 3.12). O autor sagrado toma uma ilustração da natureza, que mostra também a necessidade de coerência. Cada árvore frutífera produz seu tipo específico de fruto e certamente não pode produzir, ora uma espécie, ora outra. Isto é impossível. E apesar de que isso seria uma deleitável curiosidade, qualquer pessoa que observasse o fenômeno, pensaria que é apenas uma perversão, algo em que a natureza errara profundamente. E isso se daria especialmente se a mesma árvore produzisse, alternadamente fruto comestível e fruto venenoso. Se esse fosse o caso, a árvore seria considerada uma afronta ao processo da natureza, e não apenas uma curiosidade. O homem que produz fruto bom e fruto venenoso, também é uma afronta e uma perversidade da natureza.
c) A fonte que Produz um só Tipo de Água. O Mar Morto, na Palestina, fica apenas acerca de vinte e cinco quilômetros de Jerusalém. Naquela área há muitos poços de sal, pantanais e fontes que contém água salgada em várias percentagens. Há grande abundância de riachos salgados e fontes salobras naquela região, além de fontes termais impregnadas de enxofre, que abundam no vale vulcânico do rio Jordão. Portanto, se os leitores originais da epístola eram naturais da Palestina, haveriam de entender perfeitamente a linguagem simbólica usada. Haveriam de saber que existem fontes de água potável e também de água salobra, mas que é impossível que de um mesmo manancial jorrasse água boa e água salobra. Os mananciais de água potável trazem vida, os demais mananciais nada produzem, senão odores asfixiantes. Somente o homem pode cultivar a prodigiosa monstruosidade de produzir o que é bom e hígido, para em seguida produzir influências e poderes malignos mortíferos. Pelo menos no crente, que é alguém que está sendo transformado para compartilhar da imagem de Cristo, isso não deveria ocorrer. O NT dá a entender que isso, realmente, não sucederá jamais (Tg 3.12).
4. O Dever de não Tropeçar nas Palavras (Tg 3.2).
A língua é um membro bem pequeno do corpo. Mas tanto é difícil ser controlado como é potencialmente traiçoeiro. Um homem pois, pode ter pleno controle sobre todos os demais aspectos de sua vida e, no entanto, ser apanhado em pecados da língua, pelo menos em certas ocasiões.
a) Tropeçamos em Muitas Coisas. Tropeçar, no grego é: “Ptaío”. Literalmente, “tropeçar”, mas que em sentido moral, significa “errar”, “equivocar-se”, “pecar”. Todos cometem equívocos dos tipos mais diversos, talvez o erro mais comum seja o da língua. É fácil dizer palavras duras e apressadas, proferir ofensas de alguma espécie, sem termos consciência ou não de que ofendemos ao próximo. Portanto, se houver algum cristão que não ofende com a sua língua e nem comete erro verbal, então terá de ser, para todos os efeitos práticos, um homem perfeito, porquanto não ofende com palavras. A declaração de que todos “tropeçamos” é uma admissão do pecado universal, pois estão em foco erros morais (Rm 3.9-18; I Jo 1.8).
b) Não Tropeçando e Sendo Perfeito Varão. Alguém moralmente perfeito, não sujeito aos pecados e erros de outros homens, porquanto demonstra, em sua linguagem, que não tem defeito. Se tiver algum defeito, certamente o mostraria com suas palavras, em algum ponto, ao conversar com outros. Naturalmente, esse “perfeito varão” (impecável) é um caso hipotético. Tiago não afirma que realmente existe algum homem assim. O adjetivo “... perfeito...”, é aqui usado para indicar a “perfeição moral”. Até mesmo um homem moralmente maduro, certamente ofende com palavras, ocasionalmente. Veja a recomendação para a perfeição: (Mt 5.48; Cl 1.28; 4.6). A perfeição, no sentido neotestamentário, consiste da participação nas virtudes divinas, como o amor, a justiça e a bondade. (Gl 5.22,23). A perfeição absoluta, negativa e positivamente considerada, é o grande alvo moral de todos os crentes e isso eles poderão obter mediante a transformação segundo a imagem moral de Cristo, mediante o poder do Espírito Santo (II Co 3.18; Ef 4.12; Hb 7.11,19).
c) Quem não Tropeça em Palavras tem a Capacidade de Refrear seu Corpo. O pecado é retratado como algo que se utiliza do corpo. O autor sagrado simplesmente preferiu fazer uma declaração óbvia: O corpo é instrumento fácil do pecado. O sexto capítulo da epístola aos Romanos desenvolve amplamente esse tema. O corpo pode ser um escravo do pecado, mas também pode ser um escravo da justiça. O homem perfeito, que controla a sua língua, o mais incontrolável de todos os membros do corpo, também será capaz de controlar o corpo inteiro, para que nenhuma instância, venha a tornar-se veículo de ações pecaminosas. O corpo é um instrumento pelo qual o homem se expressa nesta Terra. Quando peca, quase sempre usa seu corpo de alguma maneira. O homem perfeito exerce controle sobre o seu corpo, como um homem controla um cavalo com arreios.
Conclusão. Como conclusão vou relatar a história das três peneiras: Um rapaz procurou Sócrates e lhe disse que precisava contar algo sobre alguém. Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:
- O que você vai me falar já passou pelas três peneiras?
- Três peneiras?
- Sim, a primeira peneira é a VERDADE. O que você quer contar dos outros é um fato? Caso tenha apenas ouvido falar, a coisa deve morrer por aí mesmo. Suponhamos então que é verdade. Deve então passar pela segunda peneira, a BONDADE. O que você vai contar é coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? Se o que você quer contar é verdade e coisa boa, deverá ainda passar pela terceira peneira, a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta? Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e seu irmão iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz".
Que o Senhor nos ajude a santificar a nossa linguagem em todo o tempo.
PR. CROCE...
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